domingo, 19 de novembro de 2006

Poesia de Domingo

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Cecília Meirelles

4 comentários:

Anônimo disse...

Caro Professor Poeta!
"Só sei que nada sei!"
Parece um mantra?! rs...
A ignorância – ou, se preferirem, a consciência de nossa própria ignorância - não nos é dada gratuitamente; a ignorância tem um preço.
Não a ganhamos, a conquistamos. E com trabalho, com muito trabalho. Como tudo o mais que tem algum valor na vida, também a obtenção da ignorância exige esforço, paciência e dedicação.
Porque não é preciso buscar aquilo que já temos. Assim, se pensamos ter o conhecimento, também pensamos não precisar buscá-lo.
Enfim, lendo o poema de Cecília você nos faz lembrar que o conhecimento nunca é demais e que nossa confissão de ignorância é a maior sabedoria!
Estudem! ... porque nunca é demais!
É isso ai!
rs...

Professor Douglas disse...

Viva a filosofia e os que amam o pensar.

"Em nada mais penses. Ama. / Melhor que pensar -- é amar." (Alberto de Oliveira, Póstuma, p. 71). Estude amando, estude com amor e tudo conseguirás.

Douglas.

Anônimo disse...

Memória

Amar o perdido
deixa confundido este coração.
Nada pode ser ouvido
contra o sem sentido
apelo do não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
Essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

Si Hart.

Anônimo disse...

Que romântico!!!!!!!!