Olá amigos concurseiros! Dia 07/04 o TJ/SP finalmente zerou a lista do concurso pra escrevente técnico judiciário de 2007, admitindo os 213 últimos habilitados pela Lei 500. Como meu nome está nessa lista, estou aqui pra contar a minha história. Aviso logo que não me considero um bom exemplo pra quem quer passar, mas uma das coisas que aprendi na minha trajetória é o que não fazer se você quer ver seu nome no Diário Oficial.
Tudo começa com a decisão por prestar concurso!
2003:
Confesso que quando tive a idéia de mudar para São Paulo para fazer cursinho, tinha acabado de me formar e não sabia direito o que ia fazer da vida. Pensei em prestar Ministério Público, uma das carreiras jurídicas mais atraentes e almejadas pelos concurseiros. Até aí tudo bem, mas como uma pessoa que odeia Direito Penal e Processo Penal pode querer ser promotora? E eu queria, fiz estágio no MP, só que no cível. Resultado, iniciei os estudos sem muito prazer/vontade. A preparação pra um concurso já é difícil, imagina torcendo o nariz pras duas principais matérias exigidas. Pra poder fazer cursinho, troquei o valor da mensalidade por cinco horas de trabalho diário. Gente, juro pra vocês, essa troca saiu cara. Trabalhava à noite e quase morria de sono nas aulas de manhã. Cabeceava de tarde estudando e no final do ano não estava preparada. Nem preciso dizer que não passei. Ai começou a frustração. Eu não tinha a menor idéia do quanto é necessário se dedicar, o quanto é caro morar em São Paulo, e que um ano de estudo, mesmo bem estudado (e não era o caso), salvo raras exceções, não é suficiente pra alcançar a aprovação.
2004:
Em janeiro, mamãe mandou o recado: Você não passou, então acho bom arranjar um emprego ou voltar pra casa. Coitados dos nossos pais! Eles sofrem pela gente. São privados da nossa companhia, preocupam-se com o desemprego, a falta de perspectiva (e é isso o que parece mesmo, aos desavisados no mundo do concurso) e muitas vezes se sacrificam pra gente poder ficar só estudando. Só estudando? Quem nunca ouviu isso de algum parente? Então você só está estudando? E é aí que o emocional começa a rolar ladeira abaixo,e as escolhas erradas só dificultam o processo. Fui trabalhar. Passei metade do ano em processo seletivo pra uma empresa de auditoria. Onze mil candidatos, quatro fases: pré-seleção pela internet (testes de múltipla escolha pra serem feitos em cinco minutos), prova escrita (inglês, português, raciocínio lógico, abstrato, numérico), dinâmica de grupo, entrevista, e não sei como, fui contemplada com uma das 105 vagas ofertadas. Parece concurso, né? Mas não é. A iniciativa privada foi decepcionante. Três meses de trabalho e eu descobri que não nasci pra ser auditora. Parabéns pra quem gosta, mas eu gosto mesmo é do Direito. Pedi demissão. Mas como, depois de tanto esforço? Pois é, mas acho melhor fazer o que gosto do que viver frustrada.
2005:
Retomei os estudos, cursinho novo, mais barato que o anterior, professores ótimos e eu ainda querendo MP. Agora vai! Vai nada.... Em abril meu pai foi internado, sérios problemas de saúde, e pra melhorar, cortaram boa parte da aposentadoria dele. Ele era Procurador do Município (é, funcionário público), e mesmo assim a prefeitura cortou. Chamam isso de choque de gestão. Para tudo! Vou para o interior, cuidar do meu pai e entrar com Mandado de Segurança contra o Município. Ah, não falei, mas pelo menos o primeiro ano de cursinho me fez advogada. A situação lá em casa custou um ano dos meus estudos, mas meu pai se recuperou, e eu recuperei a aposentadoria dele.
2006:
Meu “namorido” é nomeado analista no concurso do MPU. E eu tive uma grande idéia. É, vivo em união estável, conheci meu companheiro no cursinho, em 2003. Isso me faz pensar que nem tudo é perdido nesse meu caminho torto. Voltando a grande idéia: Ele foi lotado no MPT (Ministério Público do Trabalho). Caramba! Como não pensei nisso antes? Vou prestar concursos de nível médio e superior (analistas e técnicos), vou abandonar o MP (chega de estudar Penal- Ufa!) e prestar MPT (sempre adorei direito do Trabalho). Nesse ano me voltei pras carreiras trabalhistas, e pras carreiras dos Tribunais e MPU. Fiz pós em Trabalho e Processo do Trabalho e fui advogar na área. Esqueci de contar, eu já advogava desde 2004, pouca coisa, mais assistência judiciária.
2007:
Deslanchei! Estudava bem, advogava um pouco, prestei vários concursos. Advogado da PROGUARU, passei, 10º lugar, uma vaga, nomearam 3; Advogado do COREN, passei, 19º lugar, uma vaga, nomearam 2; escrevente técnico judicíário do TJ/SP Capital, passei na rapa, 2231º, 476 vagas, 3 anos de fila pra ser admitida, escrevente técnico do TJ/SP- pólo São Bernardo, passei, 94º, 12 vagas, dizem que a fila vai andar, já nomearam 48. Não passei em vários outros concursos, bati na trave no TRF3ª Região pra analista judiciário (83% de acertos na preliminar, fiquei por um ponto na discursiva, sem choro nem vela). O saldo foi positivo, recuperei minha autoestima.
2008:
Mais alguns problemas na família (pai doente de novo), várias viagens pra visitar a família, coração apertado, mais vários concursos, várias viagens pra prestar concurso, algumas batidas na trave, nenhuma aprovação.
2009:
Problemas continuam, várias viagens pra prestar concurso, em abril perdi nomeação pra assistente jurídico no PROCON (esqueci até que tinha prestado a prova em 2005 e não mantive o endereço atualizado, droga!), tive pneumonia (duas vezes), meu pai morreu, passei seis meses me recuperando no interior, cuidando do inventário, seguindo a vida, nenhuma aprovação.
2010:
Voltei pra São Paulo, ainda cuidando do inventário, cuidando das ações pendentes, e no dia 07/04 chegou minha vez, nome no Diário Oficial e uma alegria imensa: Virei escrevente no TJ/SP Capital. Agora estou na correria pra fazer exames, perícia, entregar documentos, substabelecer processos, mas é só felicidade!
Resumindo, a vida não para pra gente prestar concurso. Não sou a pessoa mais disciplinada do mundo, vale a pena vocês tentarem mais do que eu. O mais importante é escolher bem a carreira que se quer prestar, a escolha errada pode custar vários anos de estudo . Traçar metas reais, se você tem pouco tempo ou uma vida atribulada, não custa prestar concursos de nível médio, ou que só tenha uma fase. Escolher uma carreira que realmente você se identifique, não só com a atividade, mas com as matérias que você precisa estudar. E não desistir, ainda que hajam pausas pelo caminho. Daqui pra frente eu não sei bem como vai ser a minha vida, mas quero retomar os estudos assim que me adaptar ao trabalho, trabalhar com prazer, batalhar um lugar no TJ que me permita fazer trabalho jurídico, ser feliz um pouquinho todo dia. E não desisti do MPT, e vou prestar Magistratura do Trabalho também.
E não se esqueçam, cuidem bem de vocês também. É preciso correr atrás do sonho, mas sem o lado emocional em dia, tudo fica mais difícil. Boa sorte pra todos nós!
Karina Palacio Cunha
* próxima escrevente técnica judiciária do TJ/SP, ex-advogada e concurseira
15 comentários:
Karina !!! Que linda história colega... me identifico em todos os setores com vc. Acho que na vida o mais difícil é saber o que queremos, depois que isso acontece as coisas ficam bemmm melhores !!!! Vc é guerreira... um exemplo de conquista !!! E a vida é assim mesmo... um passo depois do outro, SEMPRE !!! Parabéns pela sua história... a gente se encontra no TJ !!! Bjs. Ana.
Puxa, gostei de ler a sua trajetória. É super normal a gente errar, parar, voltar. Realmente, a vida não para para nós estudarmos para concursos.
Sua história foi uma das melhores que já li.
Raquel Monteiro
Ka, Parabéns pela nomeação!!! muito sucesso no TJ!
Parabéns pelo post, bem detalhada sua "novela" não é fácil encarar a vida de concurseiro...
O importante é q finalmente vc foi chamada! não podemos desistir nem parar de estudar
beijos
Karina,
Acho este título improprio, pois, nós todos temos nossas limitações e vc apesar de todos obstáculos continuou lutando.
Muitos que passaram por situações semelhantes desistiram.
Então tenha orgulho de si e saiba que não existe modelo de comportamento , apenas pessoas diferentes , o que nos faz únicos.
Parabéns!!!!
Obrigada mesmo pessoal, saber que vocês gostarm é muito importante pra mim.rs Raquel, sou sua leitora assídua, adoro o que você escreve...Quanto ao título foi escolhido pra quebrar um pouco o tom melodramático. Eu acredito que a diferença entre a comédia ou a tragédia é apenas a maneira como se escolhe contar a história... Como diria a galera do Monty Python: "always look at the bright side of the life"...Bjs
Karina, fiquei emocionada de ler seu relato e acabei me identificando com sua história. Também perdi meu pai no meio da minha trajetória, tomei decisões e atitudes que me prejudicaram mas ainda estou de pé, lutando...
Você é uma vencedora e tenho certeza que isso é só o começo!
Abs,
Kátia Ito.
Como quase todas uma trajetória cheia de dificuldades. Quanto a cuidar da parte emocional, eu mais que concordo com você. Meu relacionamento de anos se acabou em virtude de não sabermos lidar com frustações e sonhos não realizados. Fica aqui meu recado. Viva hoje, pois poderá não haver amanhã. Não deposite todas suas expectativas somente no lado profissional.
Abraço a todos.
Karina, parabéns!
Você é a prova de que a superação humana não tem limites. Você tem tudo para chegar aonde deseja, no seu concurso "top", o qual em breve, não tenho dúvida, alcançará vitória!
Seja feliz em seu novo cargo!
Jerry Lima
Kabeção... parabéns, de novo. Admiro muito a sua força de vontade e me lembro bem da virada de mesa que vc deu ao perceber que devemos nos dedicar ao que nos faz feliz, mas a gente adora complicar! E tem tanta gente que ainda cai na armadilha das coisas apenas glamourosas! Beijão!
Parabéns pelo texto. Também gostei muito.
Infelizmente os anos vão passando até conseguirmos ser nomeados, mas como foi dito, não podemos pensar só nisso, pois a vida passa.
Parabéns pela nomeação e que de agora em diante sua vida seja cheia de alegrias!
Puxa, Karina! Obrigada!
Adorei saber disso.
Um grande abraço e sucesso!
Raquel Monteiro
Obrigada amigos pelo carinho!!! Jerry, adoro seus posts. Abraços e sucesso pra todos nós!
Karina,
parabéns pelas suas classificações nos concursos para Advogado e pela pontuação no concurso para Analista do TRF3.
Acredito que vc vá se tornar Analista ou Advogada (mas servidora) em breve. Pois, pelo que percebi, vc está mais para lá (nível superior) do que para cá (nível médio), haja vista as suas classificações nos concursos de nível superior e no do TJ.
Eu espero que vc consiga a Magistratura em breve, tbm.
Eu não acho que vc seja um mal exemplo nem que errou ao ter escolhido, primeiramente, prestar para a Promotoria.
O único grilo é que vc poderia já ser Escrevente do concurso de 2003 ou pelo menos ter sido chamada ainda em 2007 para o TJ (ficado bem-classificada), mas isso se vc estivesse se preparando apenas para Escrevente. Mas tudo bem!
Com toda convicção, eu acho que vc acertou muito bem nas suas escolhas (entenda por isso fazer cursinho para prestar aqueles outros concursos - Promotoria?-).
Você tinha que tentar o melhor para você, mesmo. Tudo bem que você não passou, mas foi vitoriosa ao reconhecer os seus "erros", melhor dizendo, notar como as coisas da vida interferem na sua preparação para concurso.
Isso é um avanço muito grande para que você propicie um comportamento que possa te render grandes vitórias, como a Magistratura ou a Promotoria.
Eu acho que, se vc tivesse sido Escrevente em 2003, talvez não teria a experiência que tem hoje. Porque, sinceramente, ser Escrevente é muito mais fácil do que conquistar aqueles cargos que vc almeja.
Só para ser mais esclarecedor:
Com todas as ocupações, rotina,acertos e erros que você tinha, daria para ver se preparar super bem o TJ-Escrevente, em um ano.
Já para aqueles outros cargos aos quais vc visa tem que tomar cuidado com o modo de levar o ano, com o comportamento, com o emocional etc.
Continue perseverante e se aperfeiçoando.
Seja feliz durante o seu exercício como Escrevente.
Tenho fé em que num futuro próximo vc será nomeada em outro cargo.
Parabéns por ter aprendido com a sua trajetória.
Carlos
Obrigada mesmo Carlos, ouvir isso de alguém que eu não conheço, chega a ter um peso maior que ouvir dos amigos. Eu sempre tendo a achar que em nome da amizade, as pessoas acabam sendo complacentes.Valeu mesmo!!!
Oi Karina,
Nós nos conhecemos na perícia! A minha trajetória é muito semelhante a sua ! O segredo é não desistir! Abs! :)
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